O Serviço da Meditação
Michal J. Eastcott
TODOS SABEM como a forma de pensar e as atitudes mudaram ao longo da última metade do século XX, sendo inteiramente apropriado que os métodos de meditação também se tenham desenvolvido nos últimos anos.
Dois factores fundamentais têm sido largamente responsáveis por isso: um é a aceleração fenomenal da actividade mental no século XX, tendo como resultado atitudes mais positivas que têm acompanhado este desenvolvimento e substituído uma atitude do passado perante o mundo espiritual, que era mais devocional e inquestionável. O outro é a actual perspectiva muito mais vasta e consciente dos eventos, circunstâncias e sofrimento em todo o mundo. Este factor, claro, é uma das dádivas da Ciência, o qual nos conduziu a novos níveis de vivência – e também de responsabilidade.
Está portanto de acordo com as energias de hoje que conceitos mais positivos e criativos da utilização da meditação se estejam a desenvolver e que o potencial da meditação criativa seja agora largamente reconhecido. Por exemplo, O Grupo Internacional para a Meditação Criativa e o seu sucedâneo de cariz mais introdutório “O Curso de Formação sobre Meditação Criativa Grupal” (anteriormente conhecido como Meditação para a Nova Era), nos quais muitos dos nossos leitores tomaram parte ao longo dos anos, teve a sua primeira forma organizada nos fins da década de 50 e, desde essa altura, muitos milhares se lhes juntaram em todo o mundo no seu objectivo de clarificar e de trazer maior reconhecimento e poder às leis e aos princípios espirituais, necessários para o novo ciclo da civilização mundial *.
Projectos similares surgiram por todo o mundo e são muito encorajadores o número de grupos e todos os esforços para patrocinar a meditação criativa, a reflexão e a oração para necessidades específicas.
Esta nova orientação de modo algum retira valor à prática secular da oração; esta construiu um incalculável apelo através dos séculos e trouxe conforto e força a milhões de pessoas de todas as crenças. Mas só quando a nova ciência da psicologia – e a Psicosíntese em particular – começou a popularizar-se, começámos a perceber que os elementos mais subjectivos da natureza humana, tais como sentimentos, pensamento, imaginação, visão, planeamento, vontade, intenção, e vários outros, todos são energias, aspectos de nós mesmos, que podemos desenvolver, controlar e utilizar. Todas estas diferentes capacidades podem contribuir para a meditação.
A realidade destas diferentes “actividades interiores”, como Roberto Assagioli designou, também clarificam por que, muitas vezes, preferimos um determinado tipo ou etapa da meditação a outro; alguns de nós trabalham mais naturalmente através do coração, e alguns focam-se mais facilmente na mente, enquanto outros, por exemplo, podem achar útil o uso de imagens e símbolos, embora para outros esse uso não tenha qualquer utilidade.
É da amálgama dos diferentes elementos psicológicos e energias que resulta a perspectiva multifacetada da meditação criativa. Ela coloca a percepção da mente em cooperação com a empatia do coração, com a capacidade de pensar e formular, de imaginar, de aspirar e de decidir, enquanto o uso da vontade é continuamente necessário para progredirmos durante todos os nossos esforços meditativos.
Roberto Assagioli escreveu:
ou aos diferentes tipos psicológicos através dos quais se pode atingir o cume do superconsciente e contactar o eu espiritual.
“informações” de vários níveis do inconsciente e do mundo exterior. Em primeiro lugar, precisamos de “entrar no nosso próprio eu”
– por outras palavras, retirar a consciência para o “EU” consciente, para o verdadeiro centro da área de consciência nos seus níveis normais.Para isto há necessidade de silêncio, não apenas exterior mas interior … Se nos observarmos, percebemos que temos uma contínua
voz interior – existem vozes incessantes provenientes das nossas sub-personalidades ou do nosso inconsciente, um contínuo ruído interior.
Por isso, o silêncio exterior não é suficiente. Na verdade, podemos estar verdadeiramente recolhidos na nossa mente embora no meio
do ruído exterior.
No início, isto não é fácil de conseguir, mas a necessidade de desenvolver a concentração é muito idêntica à necessidade de adquirir um bom sistema muscular antes de actividade física dum tipo exigente. Se olharmos para isto deste modo já podemos não sentir esta primeira etapa da meditação tão monótona e “para juniores”. De facto, o sucesso de toda a futura prática de meditação depende do domínio desta primeira etapa.
A verdadeira meditação é uma disciplina no sentido científico. Não é simplesmente descontracção ou seguir o curso dos nossos sentimentos, mas uma maneira clara de acção interior pela qual controlamos e usamos as nossas diferentes funções psicológicas, isto é, coração, mente, imaginação, aspiração, etc.
Por isso existem muitos métodos diferentes de meditação e o tipo que devemos seguir depende do nosso objectivo. Por exemplo, será que temos a expectativa de alcançar um sentido mais elevado da nossa alma? Ou temos a expectativa de descobrir um sinal claro de uma realidade que ultrapassa o eu pessoal? Por outro lado, podemos querer cultivar uma determinada qualidade em nós próprios, que sentimos que nos falta, ou aprender a lidar melhor connosco próprios. Também podemos querer descobrir uma forma de meditar com os outros em prol do mundo e dos milhões de pessoas que tanto sofrem presentemente.
E aqui chegamos ao serviço que é particularmente realizável pela meditação de natureza criativa. O reconhecimento de que o pensamento é energia e como tal pode ser eficaz, e que todas as nossas capacidades internas podem, como mencionámos anteriormente, ser usadas criativamente – são literalmente meios de acção interna – trouxe um novo realismo aos velhos conceitos de oração e de meditação. Uma nova “ciência da meditação” começou a emergir e está a ser cada vez mais praticada no clima presente de urgente necessidade mundial.
S. Paulo escreveu numa das suas cartas às igrejas cristãs acerca da existência de “uma nova mente”. Isto era relativo à nova dispensação do Cristo que na altura estava no início, e hoje, à medida que mudamos da era de Peixes para um tipo de consciência aquariana muito diferente, parece apropriado reconhecer que estamos de novo no início de um novo ciclo e que estamos em direcção a ele com uma “nova mente”.
Esta série sobre os Tipos de Meditação tem sido muito breve para dar uma visão apropriada de um tema tão vasto, mas espero que tenha sido suficiente para abrir o apetite daqueles que talvez estejam na margem, sentindo-se atraídos pela meditação e no entanto hesitantes em avançar. Não há que ter medo. Tal como quando lançamos à água uma jangada e subimos a bordo, também quando lançamos um esforço genuíno para meditar não nos afundamos como uma pedra! Novos elementos apoiam-nos, novas perspectivas puxam-nos para a frente, e nós descobriremos que há muitas recompensas – não sendo a menor um forte sentido de associação em meditação através e para o nosso Mundo.
Este artigo foi primeiro publicado pela primeira vez no © Communiqué, Nº III, Setembro 1993
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(Edição do GEM autorizada para a língua portuguesa)