Falta de Tempo – Reflexões

Reflexões sobre a falta de tempo

Necessitava de compreender melhor o que mais precisava de modificar na minha personalidade que me dispo­nibilizasse mais, sem afectar os que me rodeiam, di­zia alguém. Muito haveria a dizer sobre este tão importan­te assunto, uma pro­blemática que surge com demasiada fre­quência, quando somos muito confrontados com aquilo a que chamamos falta de tempo. Preci­samos de um dis­cernimento apurado, ao mais alto grau que as nossas pos­sibilidades permitirem. Tentemos abordar este tema sob perspectivas variegadas, deixando, depois, a cada um, a nobre missão de encontrar a resposta que mais lhe convi­er.
Comecemos por este princípio. Numa determinada encarnação, somos impulsionados para a vida espiritual pe­los mais diversos motivos. Uma vida dupla é-nos então forçada, de uma maneira ou de outra. Quanto maior a for­ça com que formos impulsionados para a espiritualidade e quanto maiores as “barreiras” erigidas, à nossa volta ou por nós, pior para a nossa paz de espírito. É alterado o nosso dia-a-dia, os nossos familiares exigem-nos mais, ou o nosso emprego passa a não nos deixar respirar, ou adoecemos. Tudo parece contra, é aquilo que nos ocorre; porém, isto é tão frequente que não vale a pena julgarmos que só nos acontece a nós. Fi­cam desenhados os contor­nos do nosso quotidiano de difi­culdades e de desafios. De­pois, o que é pior, temos com frequência pouca bagagem para os ultra­passar. Que kar­ma terrí­vel, admiti­mos com maior ou menor dificuldade.

Mas quem ignora que ser, ou querer ser, discípulo, signifi­ca processo evo­lutivo acelerado e, em consequência, esgo­tamento de karma em ritmo por vezes alucinante?
A nossa disponibilidade para mudar é grande, ou, pelo menos, isso parece-nos. Tudo depende do nosso pri­mi­tivo nível de conservadorismo, ou de apego, ou de co­modismo, ou da cristalização das nossas formas de pen­sar habituais. Esta é uma fase crucial do processo. Temos de mudar e nem sempre somos suficientemente hábeis, ou não desenterramos a indispensável coragem, ou soçobra­mos perante tamanhos obstáculos. Estes surgem tanto maiores quanto menor a força de ânimo. Se a força inte­rior não é suficiente, então, por vezes, desculpamo-nos com os outros, sobretudo com as nossas obrigações fami­liares, ou vamos adiando paulatinamente para o próximo mês, ou o próximo ano, ou quando já tiver aca­bado isto ou aquilo. Assim nasce a trama em que é urdida a noção de falta de tempo. E muitos “morrem” aqui…
Este texto pode ser útil, quer ele corresponda no todo, em parte, ou só pouco, à verdade. Com ele quere­mos ape­nas mostrar que há uma saída muito airosa e que passa pela simples palavra QUERER. É preciso que­rer ver, querer en­frentar o que se vê, querer mudar, querer en­contrar, de facto, uma nova vida. Ora a palavra é simples e o meio de o al­cançar também não é nada do outro mun­do: alinhamento cada vez mais frequente e constante com a alma. Há que dar-lhe ouvidos. Escu­tá-la no silêncio do coração. A tal Voz do Silêncio, o Mestre no Coração, o Anjo da Guarda, a voz da consci­ência.
Estamos a falar, pois, na luta insane entre o Habi­tante no Umbral e o Anjo Solar ou da Guarda. O resultado deste confronto, tão bem descrito no Bhagavad Gîta, só de nós depende: ou seguimos os conselhos que nascem cada vez mais no interior e em cima, ou, então, deixamo-nos en­torpecer pela força dos sentidos e pelo apelo da terra.

Falta de tempo. Que entendemos por isto? E por tempo propria­mente dito?
A segunda questão não é pacífica. Com efeito, há que saber distin­guir o tempo físico do tempo psicológico. Se estamos a fazer algo de que gostamos, o tempo corre tão depressa que nem damos pela sua passagem. Contu­do, o pro­blema é grande se somos forçados, ou constran­gi­dos, a des­perdiçar tempo naquilo que não nos agrada e, então, este tempo nunca mais passa. Ou seja, a noção de tempo psicológico é muito mais importante do que nos po­de parecer. É ele que determina verdadeiramente se te­mos muito ou pouco tempo, quer o tempo físico con­tabilizado seja curto ou longo. Atenção, porém, que, em quaisquer circunstâncias, é altamente desejável que sai­bamos eliminar o supérfluo com grande maestria: que posso, ou devo, deixar de fazer a partir de agora para conseguir ganhar tempo, é a questão que teremos de en­frentar. Só cada um sabe o que lhe dita a consci­ência quanto ao que pode ser irremediavelmente abandonado.
Todavia, queremos ganhar tempo com que objecti­vos? Servir a Humanidade e – por esta ordem, diz-se-nos – a Hierarquia Espiritual? É isto a razão de ser da minha vi­da? Sou um servidor em cada mínimo gesto? Aqui, na pa­lavra gesto, devemos abarcar o pensamento, a palavra e a ac­ção. Estas frases são decisivamente importantes e tam­bém têm a ver com a questão do tempo. Elas incluem ain­da um outro factor importante para a nossa vida espiri­tua­lista, o de acei­tarmos com indiferença divina (não é aban­dono nem deixar andar, portanto) o nosso karma, aquilo que a vida nos ofere­ce. Na realidade, o servidor au­têntico precisa de aprender a “dura” lição de transformar cada ocasião numa oportunidade de serviço. Lição “dura” por­que não vemos as oportunidades, ou não as sabemos ver, ou não as queremos ver. Ora, é nesta fase da questão que volta a interferir o factor tempo, pois a nossa mente é manhosa e sabe ludibriar-nos, tanto mais quanto menos atentos estivermos.

É chegada a ocasião de se reflectir agora sobre tudo isto. À laia de conclusão, poderemos afirmar genericamen­te que o segredo nesta matéria reside em servir em cada gesto, tornando cada oportunidade de serviço, com que o karma nos brindar, num tempo de prazer supremo, de in­diferença di­vina quanto aos anseios egoístas da personali­dade, porque nós somos um veículo de expressão das energias da alma, quer o aceitemos ou não.

O período do mundo está tão apertado nesta época que existe uma oportunidade completa para encontrares uma esfera ampla de contacto, para trabalhares em cooperação total com outras pessoas e condiscípulos e, assim, for­çares-te a libertar o poder magnético da tua personalidade infundida pela alma.
Discipulado na Nova Era, Vol. 2, p. 483

Contemplem a relação entre Instrutor e discípulo. O Ins­trutor dá indicações dentro dos limites permitidos. Eleva o discípulo, puri­ficando-o dos hábitos velhos. Adverte-o so­bre vários tipos de traição, superstição e hipocrisia. Testa o discípulo abertamente e em segredo. O Instrutor descer­ra os portões do degrau seguinte com as palavras: “Rego­zija-te, irmão.” Ele pode também fechá-los com as pala­vras: “Adeus, passante.”
O discípulo escolhe o seu Instrutor. Reverencia-O como um dos Seres Superiores. Confia Nele e traz-Lhe seus pensamentos me­lhores. Preza o Nome do Instrutor e ins­creve-O sobre a espada da sua palavra. Manifesta diligên­cia no trabalho e flexibilidade na realização. Encontra as provas como a luz da manhã e dirige sua esperança para o ferrolho dos portões seguintes.
Amigos, se quiserem aproximar-se de Nós, escolham um Instru­tor e entreguem-Lhe a vossa orientação. Ele dir-vos-á em tempo quando a chave dos portões pode ser girada. Cada um deve possuir um Instrutor na Terra.
Agni Yoga, § 10

 

Devemos distinguir entre o essencial e o supérfluo

O que todos necessitam de entender com maior clareza, quer enquanto indivíduos quer enquanto grupo, é a necessidade actual da humanidade e a lei dos ciclos. A urgência do tempo e a singularidade da oportunidade parecem pouco compreendidas pela maioria de vós. (DNE2, p. 684)

São inimagináveis o poder conjunto de boa vontade, o efeito dinâmico de compreensão inteligente e activa, e a força de uma opinião pública instruída e consciente, que deseja o bem maior para a maioria. Esta força dinâmica nunca foi aplicada. Hoje, ela pode salvar o mundo. (EH, p. 211)
É inútil a procura sem acção correspondente, tal como está morta a fé sem obras. É aqui que existe uma quebra na ligação magnética que deve unir o Avatar com a demanda pelo Seu aparecimento. A sua emergência deve ser causada por uma corrente ou fio de energia quíntupla: a vontade focada das pessoas, a intenção conjunta dos discípulos mundiais e aspirantes, mais o seu desejo, a sua participação activa na tarefa de preparar o caminho para Ele e o altruísmo completo. Só quando a humanidade tiver feito tudo quanto possível para regular o que está errado e acabar com a maldade, e tiver levado este esforço até ao limite de sacrificar a própria vida, pode aparecer Ele, o Desejo de todas as nações. (EH, p. 296)
Fica nas mãos das Nações Unidas a protecção desta energia [atómica] libertada, para evitar uso indevido e certificar-se que o seu poder não é prostituído nem por fins egoístas nem por propósitos puramente materiais. É uma ‘força salvadora’ que tem em si a potência de reedificação, de reabilitação e de reconstrução. A sua utilização correcta pode abolir a indigência, proporcionar o conforto civilizado (e não luxo inútil) a todos no planeta; a sua expressão em formas de vida correcta, se motivada por relações humanas correctas, produzirá beleza, calor, cor, a abolição das doenças actualmente existentes, o afastamento da humanidade de todas as actividades que impliquem viver ou trabalhar no subsolo, e o fim de toda a escravidão humana, da necessidade de trabalhar ou lutar por coisas e bens, possibilitando uma forma de vida que libertará o homem para perseguir os propósitos mais elevados do Espírito. Chegará ao fim a prostituição da vida à incumbência de fazer face às necessidades básicas ou para possibilitar que algumas pessoas ricas e privilegiadas tenham demasiado enquanto outras têm muito pouco; a humanidade em geral pode agora viver um estilo de vida que lhe proporcionará tempo e lazer para prosseguir propósitos espirituais, concretizar uma vida cultural mais rica e alcançar uma perspectiva mental mais ampla. (EH, pp. 498-9)
Podem perguntar, no início do vosso trabalho pessoal comigo, qual o requisito que considero mais importante neste momento. Na bagagem de todos os discípulos há sempre muita coisa em falta e muito que deve ser eliminado. No entanto, é desnecessário e inútil atacar todos os pontos de uma só vez e, portanto, digo-vos que agora a vossa necessidade maior é manter uma vibração elevada, mais rápida e firme. O vosso progresso no Caminho tem sido sério e constante e o vosso propósito de vida tem sido directamente orientado para o vosso objectivo; mas o vosso ritmo, ou melhor, o vosso batimento cardíaco espiritual, é lento e isto deve ser acelerado. O Caminho deve ser percorrido mais rapidamente; isso será alcançado através de uma atitude mental mais activa. A taxa vibratória dos corpos é variável. O corpo astral vibra mais rapidamente que o físico e o corpo mental tem uma vibração mais alta e mais rápida que o astral. É no plano mental e na consciência mental que devem procurar viver. Isto permitir-vos-á (depois de dois ou três anos de trabalho comigo) ‘permanecer no ser espiritual’, coisa que neste momento só conseguem sob forte esforço e tensão mental, pois ainda não é uma propensão de vida. (DNE1, p. 174)
Devemos distinguir entre o essencial e o supérfluo. Esta é uma afirmação de profunda realidade e significado ocultistas, contém a chave para a vida espiritual e para todos os mistérios ocultistas. Agrada-me que tenham isolado esta verdade e tenham tentado formulá-la com clareza. Agora, meu irmão, usa-a como a nota-chave da tua prática espiritual durante os próximos meses, vivendo-a e respeitando-a. Contudo, aplica-a não em relação à tua época ou à tua vida activa no plano físico, mas em relação à forma como usas emoção e pensamento. Usa-a como critério de avaliação para todos os problemas e situações de natureza emocional e para cada reacção deslumbrante da personalidade, observando a luz que fluirá de todos os lados. Pergunta-te, por exemplo: Esta linha de pensamento ou reacção emocional interior é essencial ou não tem qualquer importância à luz das questões mais amplas e, portanto, é supérflua? O concordar ou não com ideias ou pontos de vista de alguém tem por base fundamentos espirituais essenciais ou aspectos supérfluos da personalidade? Age de acordo com a resposta que surge quando em presença da luz da tua própria alma. Pergunta-te também: Os meus comentários, ou discussão em que posso estar envolvido, respeitam a questões espirituais essenciais, ou não? As minhas palavras acentuam a realidade espiritual no meu irmão ou trazem à luz o supérfluo? Estou a usar o peso da minha influência a favor de factos essenciais ou estou a promover o supérfluo e, portanto, o desnecessário? Em termos práticos, poder-se-ia utilizar esta lei ocultista de múltiplas formas, mas indiquei suficientemente a utilidade da tua afirmação. (DNE1, pp. 334-5)
Lembrar-vos-ia, a todos os que praticam estas formas meditativas, que elas não serão eficazes e não terão a potência vital necessária, a menos que quem assim medita se identifique com o propósito e objectivo da meditação, se dedique à cooperação com esse objectivo e resgate todos aspectos de sua própria vida em conformidade com o desejo focalizado expresso neste apelo espiritual. É inútil, meus irmãos, meditarem no sentido de ajudarem a preparar o mundo para a vinda da Hierarquia e para o reaparecimento de Cristo, a menos que, novamente, essa preparação seja parte integral do vosso próprio esforço diário constante, e não seja apenas um desejo simples e a formulação de uma teoria esperançosa relativa ao futuro da humanidade. Por exemplo, é inútil meditar para reorientar o dinheiro para o trabalho espiritual (e quando falo de “trabalho espiritual” não me refiro aqui ao trabalho das igrejas ou das religiões do mundo), a menos que todas as verbas, que individualmente vocês têm de manusear, sejam para fins justos, para o cumprimento das vossas obrigações legítimas e para o pagamento das vossas responsabilidades kármicas, e ainda o reconhecimento constante da relação de todo o dinheiro com o futuro espiritual da raça e as exigências do Plano hierárquico. Na vossa consciência, deve haver sempre um reconhecimento das necessidades de todos os homens, e isto deve ser verdade para todas as pessoas com preocupação espiritual, para todos os verdadeiros esoteristas e para o homem com inclinação religiosa, cujo coração e compreensão são mais divinamente inclusivos do que os corações dos seguidores normais de qualquer doutrina religiosa, enunciada pelos teólogos de qualquer fé. (DNE2, pp. 224-5)
Deveriam ter avançado para uma fase de discipulado mais íntima, não fora a vossa sempre pronta e ainda persistente reacção ao irreal, ao desnecessário, e àquilo que se intromete entre vós e a progressão clara, constante e iluminada no Caminho que deveria ser vosso. Notarão que não uso aqui a palavra fascínio. A razão é, aparentemente, por ser uma palavra totalmente sem sentido para vós, mas senti que deveria evidenciar o facto de que o fascínio (no que vos respeita) significa aquilo que vos desvia do serviço desejado, que vos absorve a atenção – e evita que se concentrem nas realidades e factos da vida, aquilo que vos coloca sempre no centro de algum grande esquema como o génio que faz alguma descoberta, como o arquitecto de um edifício destinado a abrigar a humanidade. e que se mete entre vós e o dever simples de um discípulo assumido – pois isso são-no imutavelmente. (DNE2, pp. 724-5)
Livros de Alice A. Bailey:
DNE1,2 – Discipulado na Nova Era, Vol. I, II
EH – A Exteriorização da Hierarquia